Padre Marcelo Rossi, 41 anos, que se tornou um dos maiores
recordistas de venda com os 3,3 milhões de cópias de
"Músicas para louvar o Senhor" (1998), seu primeiro
disco, diz não ver problemas com o download pessoal de músicas.
Mas, além de criticar a pirataria de rua, ele faz questão de
ressaltar que "fez a parte dele" quando coloca um
trabalho novo na praça de forma oficial.
Ele está lançando agora "Paz sim, violência
não", álbum em duas partes que conta com a participação de
diversos artistas famosos. No mês de setembro sairá o DVD com a
gravação ao vivo do disco no evento do Autódromo de Interlagos
(São Paulo), no último dia 21 de abril. Na ocasião estiveram
presentes 3 milhões de pessoas.
Marcelo Rossi se declara um entusiasta das novas
tecnologias. Destaca o chat de orações e a missa de domingo à
tarde que será transmitida pela internet em breve - que vê como
uma facilidade para brasileiros que estão em países distantes.
Nesta entrevista ele fala de celebridades, internet e de
pesquisas de células-tronco.
G1 - Gostaria de saber como e quando o sr. decidiu que o
tema de seu novo disco seria "paz e violência"?
Padre Marcelo Rossi - Isso foi pensado há muito
tempo. Eu já havia feito um jogo de futebol com o tema de
"Paz sim, violência não". Neste ano eu comemoro 14
anos como padre, dez anos evangelizando na mídia, e não é fácil.
O que já tomei de pedrada... eu me comparo a um soldadinho raso
no front. E eu chorei muito quando vi aquela multidão toda [no
Autódromo de Interlagos]. Este não é meu oitavo CD, esse é um
projeto. Convidei 22 amigos que estão no CD: Ivete [Sangalo],
Bruno & Marrone, Daniel, entre outros. E essa apresentação
vai sair em dois DVDs no mês de setembro.
Chovia copiosamente no dia anterior ao evento, as
pessoas envolvidas na produção estavam tristes, porque achavam
que ia estragar o dia. Ao longo do evento foram 3 milhões de
pessoas no autódromo, segundo a Polícia Militar. Durante a
gravação não caiu uma gota de água. Mas só foi terminar com a
Claudinha Leitte, os dois ajoelhados cantando "Jesus
Cristo", para começar a chover.
G1 - Então o sr. acredita que houve uma intervenção
divina?
Padre Marcelo - Coincidência?
[Dá risada]. Já aí há uma mostra do amor Dele. Na minha missão
eu fui muito cobrado, questionado nos três primeiros anos de
evangelização. Hoje, graças a Deus, há um respeito dos artistas,
que fizeram questão de participar do disco.
G1 - O sr. acha que seus propósitos e motivações são
diferentes hoje, se comparados com o começo de carreira
musical?
Padre Marcelo - Olha, eu não
faço mais show [de forma regular], eu tenho outras coisas para
resolver como sacerdote, como reitor do santuário, são caravanas
e caravanas que vão até lá, é uma responsabilidade linda, eu
tenho que estar lá, às vezes não fisicamente, mas eu tenho que
estar lá. As pessoas não sabem, mas em 1997 eu fiz uma promessa
ao papa [João Paulo II] em um encontro com jovens padres. Ele
disse: "Vocês precisam sair da paróquia, vão ao encontro
dos fiéis". Isso mexeu comigo. [Na carreira] nada foi
programado, foi coisa de Deus.
Fui a todos os meios [de comunicação], fiz o filme
["Maria, a mãe do filho de Deus"], que pude entregar
ao papa [João Paulo II] antes de ele falecer, aí balançou um
pouquinho, acabou minha missão, chega de... Vou continuar minha
pescaria, mas de um outro jeito. Tem a pescaria na praia que
você faz ao lado de muitas pessoas, joga a rede no mar. Mas
quando você está na mídia, você não está à beira do mar. Você
está em alto-mar. E em alto-mar tem tempestade, não é fácil.
Crítica aqui, crítica lá. Por isso o tema "Paz sim,
violência não". Estamos em paz. Estamos em um mundo onde as
pessoas estão se fechando em si mesmas.
G1 - O que o senhor acha do culto a celebridade
existente no mundo de hoje?
Padre Marcelo
- Antes, quando eu celebrava, havia 2.000 pessoas e eu
conseguia cumprimentar muita gente. Hoje em dia, no novo
santuário, são de 20 mil a 30 mil pessoas, então eu tento dar a
mão a quem está ao meu lado, um abraço, é a pastoral da
acolhida. E a prova está aí, a acolhida que existe...
G1 - Mas pergunto de uma forma mais geral, já que o sr.,
além de padre, também é artista. O sr. tem uma opinão
formada sobre essa crítica à presença excessiva das
celebridades na mídia?
Padre Marcelo
- Se não houver espiritualidade... Sabe qual é a minha
oração todas as manhãs? Eu peço [faz silêncio]... humildade,
humildade, humildade, equilíbrio e unção. E por que três vezes
humildade? Bem, eu não mudei nada em mim, só algumas coisas que
infelizmente mudaram na minha vida. Eu trato as pessoas como eu
sempre tratei.
G1 - E quando o sr. percebe todo o sucesso de
popularidade em diversos campos, existe um pouco de vaidade
em relação a tudo que foi alcançado, um orgulho natural em
qualquer ser humano?
Padre Marcelo -
Pena que estamos falando por telefone, porque eu gosto de olhar
nos olhos da pessoa, mas eu falo de coração. Minha mãe tem um
quarto em que ela guarda tudo. Eu entro lá e já fico
aterrorizado. Mas eu entro em respeito a ela. Mas tem algo, o
filme de Maria vai continuar. O dia que eu for vai prosseguir
por 30, 40 anos. E esse CD [o que está lançando], CD não, um
projeto, ele é perene. Se isso é vaidade... eu fico feliz de
deixar uma marca, de deixar um exemplo de Cristo.
G1 - O que o sr. acha da pessoa que faz download de seus
discos ou até compra o CD pirata justamente em admiração ao
sr.?
Padre Marcelo - Pirataria é
crime. Eu briguei por esse CD. E o dinheiro dele nem vai para
mim, todo o lucro é revertido para as obras do Novo Santuário. E
eu briguei por um preço mais justo do CD, R$ 19,90, em vez de R$
24, R$ 25. Os piratas não vão conseguir um encarte maravilhoso
como esse que eu tenho e uma qualidade de som duvidosa. E o
dinheiro do pirata, para onde vai? Para o tráfico.
G1 - E o download para uso próprio? O sr. acha que
espalhar a mensagem é o mais importante?
Padre
Marcelo - Se a pessoa está fazendo isso [download],
é diferente. Agora, comprar no pirata... Ao mesmo tempo, a
pessoa tem que ver o seguinte: o religioso, que não é o meu caso
- já que existe a diferença entre padre religioso e secular - o
religioso não pode colocar as coisas em seu nome. Eu jamais
poderia pegar um dinheiro que vem da coleta, é da igreja. Esse
dinheiro do CD - falo canonicamente e juridicamente - é
licitamente meu. E eu dou todo o dinheiro para o Santuário, que
também não é meu, é da igreja. Se você quer fazer um download,
ótimo, não tem problema nenhum. Mas saiba que eu fiz a minha
parte. Eu doei o que era meu.
G1 - O que o sr. achou da recente decisão do Supremo
Tribunal Federal favorável à liberação das pesquisas com
células-tronco?
Padre Marcelo - É um
assunto muito complexo para a gente conversar agora. Primeiro,
deveria ser alguém ligado à área. O grande problema é quando o
homem, o cientista, se julga Deus, de brincar... começa assim. É
complexo, é uma linha muito tênue, de cometer atrocidades
tentando ser Deus. Você sem Deus não é nada.
G1 - O sr. acha que mundo vem melhorando?
Padre Marcelo - Como colocar para você...? Depois
da globalização, nós temos muita informação e pouca formação.
Hoje tem crianças de seis, sete anos, de quatro, cinco anos que
apanham da madrasta. Eu acho que o mundo piorou, só que eu sou
aquela pessoa que acha que, para vencer a violência, só o amor.
Eu tenho consciência do meu papel, de levar valores morais às pessoas.