• fernando silva
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Hilda Hilst em 1954  (Foto: Fernando Lemos/Divulgação)

Hilda Hilst em 1954 (Foto: Fernando Lemos/Divulgação)

Para Hilda Hilst (1930-2004), ter apenas reconhecimento era sem sentido. “Não adianta dizerem pra mim que sou excelente, e eu perguntar ‘o senhor leu? Não, senhora, nunca li.’” Agora, porém, estas duas virtudes são o norte da homenagem que a controversa e prolífica escritora recebe no Itaú Cultural, em São Paulo. A partir deste sábado (28), a exposição do projeto Ocupações – que já celebrou, entre outros, Nelson Rodrigues, Jards Macalé e Laerte – mescla escritos, estudos e fotos para que a obra dela seja vista, lida e pensada.


A mostra reúne trechos de diários, desenhos e anotações de Hilst, além de depoimentos em vídeo e áudio da artista e de pessoas que conviveram com ela. Há ainda registros originais manuscritos e datilografados espalhados por cinco ambientes, batizados com nomes de alguns de seus livros: Kadosh (1973); Júbilo, Memória, Noviciado da Paixão (1974); A Obscena Senhora D (1982); Com os Meus Olhos de Cão (1986); e O Caderno Rosa de Lori Lamby (1990). Todos em fac-símile também, cujas versões o público pode ler e manusear. A cenografia, por sua vez, é inspirada no local de trabalho e moradia dela, a Casa do Sol, em Campinas (SP).

Lygia Fagundes Telles, ao fundo, e Hilda Hilst, em primeiro plano, na década de 1950 (Foto: Acervo Instituto Hilda Hilst/Divulgação)

Lygia Fagundes Telles, ao fundo, e Hilda Hilst, em primeiro plano, na década de 1950 (Foto: Acervo Instituto Hilda Hilst/Divulgação)

Hoje sede do Instituto Hilda Hilst, o lugar foi construído por ela própria para que pudesse se dedicar somente à literatura, longe das agitações da cidade de São Paulo. Formada em direito pela USP, a então iniciante escritora se mudou para a chácara no interior aos 36 anos, em 1966. Lá, esta paulista de Jaú recebia amigos como Lygia Fagundes Telles e Caio Fernando Abreu (1948-1996) e concebeu a maior parte de sua diversificada obra literária.

Hilda escreveu oito peças de teatro e fez crônicas jornalísticas, mas se destacou mesmo na poesia e no romance. De seu leque se sobressaem desde o poema Alcoólicas (“A vida é crua. Faminta como o bico dos corvos.”), do título homônimo, de 1990, à novela A Obscena Senhora D, a história de Hillé, uma mulher que se isola num vão de escada após a morte do amante. Já sexagenária, no início da década de 1990, a autora passa a escrever livros pornográficos. O polêmico O Caderno Rosa de Lori Lamby (1990), o diário de uma menina de oito anos que se prostitui, é o marco inicial desta mudança.

Hilda Hilst em 1991  (Foto: Éder Accorsi/Divulgação)

Hilda Hilst em 1991 (Foto: Éder Accorsi/Divulgação)

Chamada também de obscena, a fase final de sua carreira conta ainda com outros títulos, entre os quais estão o romance epistolar Cartas de Um Sedutor (1991) e o volume de poesias Bufólicas (1992).

Para ajudar a contar esta trajetória, a Ocupação Hilda Hilst apresenta ainda alguns eventos culturais no instituto. No dia 18 de março, por exemplo, Eliane Robert de Moraes e Luisa Destri, professora e doutoranda de Literatura Brasileira na USP respectivamente, fazem uma leitura comentada e debatem livros da escritora. A exposição vai até 21 de abril, data de aniversário de Hilst, e se encerra com a montagem da peça Matamoros, dirigida por Bel Garcia, baseada na obra da artista e com sessões na terça e na quarta-feira (21 e 22/4), às 20h.

Ocupação Hilda Hilst

Quando: De 28 de fevereiro (a partir das 11h) a 21 de abril 
Onde: Itaú Cultural – Avenida Paulista, 149, Bela Vista, São Paulo (tels. 2168-1776/1777)
Quanto: Grátis
Mais informações: novo.itaucultural.org.br